Zumbis da comunicação

Última atualização: 25 de maio de 2022
Tempo de leitura: 6 min

Sou fã fervoroso e defensor da tecnologia. Escrevo e compartilho uma visão apaixonada sobre a evolução da sociedade e suas constantes transformações, principalmente no campo da comunicação. Mesmo assim, as vezes tenho um olhar crítico. Percebo que muitas pessoas passam imersas na mídia por muito tempo e, na maioria das vezes, não percebem o quanto estão expostas. A multiplicação das experiências nas redes sociais contribui não apenas para a falta de consciência da influência delas em suas vidas, como também amplifica e acelera uma fusão contínua de outras atividades envolvendo a educação, o trabalho e o lazer.

Para muitas pessoas, principalmente os jovens, o uso intensivo e imersivo destes ambientes pode ser visto como a transformação em viciados impotentes, escravos dos influenciadores e suas recomendações tendenciosas. Verdadeiros zumbis no sentido em que sucumbem acéfalos ao chamado de consumo desenfreado, a repetição de passos de dança ou defesa de argumentos políticos questionáveis. Zumbis porque usam as essas mídias de forma a anular suas distinções como indivíduos. São manipulados como peças previsíveis em um jogo marcado.

A associação entre mídia e zumbis não é nova. Algumas vezes invocada sobre comportamentos ante ao controle dos meios de comunicação através da história, sejam jornais, rádios, revistas, televisão, até mesmo os livros. Entretanto, é possível considerar que hoje o nível de imersão nas redes sociais é sem precedentes. O desejado engajamento é o santo graal do universo digital. Então não é surpreendente que para tentamos entender esses cenários juntemos ao comportamento similar ao parcialmente vivo e parcialmente morto para uma compreensão crítica.

Em um mundo de visão apocalíptica, envolvendo pandemia, guerra, inflação, negação a degradação do meio ambiente, eventos climáticos cada vez mais extremos, fragilidade da matriz energética, percebemos um movimento de desunião global que se confirmado, pode alterar radicalmente a atual estrutura produtiva do planeta, bagunçar o sistema econômico mundial e criar novos blocos de poder. Exatamente em um momento de fragilidade intelectual da nova geração que se acostumou a ver a vida como um videogame.

Trabalhar em uma área que une a comunicação com tecnologia traz a responsabilidade de compartilhar potenciais cenários, assim como estimular pessoas próximas a refletir sobre as alternativas que temos. De nada adianta criticar as criptomoedas, desdenhar dos NFTs, menosprezar o Blockchain ou ridicularizar o metaverso. Boas ou ruins, ideais ou não, essas são as ferramentas que temos a disposição para construir uma nova sociedade.

A intolerância ao diverso tem que sair dos discursos rasos e de alguns oportunistas do ESG. Ao mesmo tempo que não podemos polemizar todas as questões. Nessa grande transformação que assistimos, devemos entender que a longevidade da vida nos colocou em um contexto multigeracional nunca experimentado. Determinados pensamentos e costumes, comprovadamente errados, devem ser corrigidos com a força adequada, evitando cancelamentos.

Normalmente as palavras têm significados múltiplos, maior que o próprio termo. Quando falamos em cores, por exemplo, nós associamos ao amarelo ouro à atenção ou energia, ou o vermelho com advertência, proibição e perigo. Mas essas inferências não estão embutidas no significado básico de “amarelo” ou “vermelho”. São acréscimos culturais que atribuímos às palavras possibilitando riqueza à linguagem.

Este é um dos motivos pelos quais os documentos jurídicos, estudos médicos e científicos são tão difíceis de ler. Para evitar interpretações, os termos comuns são retirados, evitando a controversa bagagem cultural. Desta forma, palavras adicionais específicas não são introduzidas para preencher as lacunas de interpretação.

Assim como na ficção, ou como nos games, sempre existe a possibilidade de salvar os zumbis. E é isso que precisamos fazer. Encontrar uma forma de utilizar a tecnologia para nos capacitarmos como indivíduo e sociedade. Para todos aqueles que comprovadamente não se sentem zumbis, devem esquecer esse discurso repetitivo que a inteligência artificial vai roubar empregos. Que a polarização é algo inevitável ou que para se ter a paz devemos fabricar mais armas. Para mudar precisamos inovar no processo de comunicação. Devemos construir pontes e juntar as bolhas. Não será fácil nem rápido. Mas é necessário.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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