Última atualização: 9 de julho de 2025
Tempo de leitura: 6 min
Pode Não Parecer, Mas Está Tudo Interligado. No frenesi informacional em que vivemos, onde manchetes explodem e timelines se renovam a cada segundo, o verdadeiro conhecimento aprendeu a se esconder. Não no que é dito em voz alta, mas no que sussurra nos rodapés (https://www.linkedin.com/pulse/o-conhecimento-est%C3%A1-rodap%C3%A9-marcelo-molnar-afrpf/?trackingId=VMujtOehfxWQ%2FCaLKxMnJQ%3D%3D). Em Defesa da Sobrevivência Cognitiva, é preciso olhar além do ruído e reconhecer os alicerces do saber. Se na academia o saber se acumula sobre citações silenciosas, no jornalismo a originalidade é moeda de prestígio e nas redes sociais a fonte evapora diante da velocidade. A inteligência artificial (IA), emergindo desse cenário, não cria o caos; apenas reflete a desordem que nós mesmos alimentamos. Absorvendo dados sem filtros emocionais, a IA aprendeu rápido o que demoramos séculos para esquecer: que o conhecimento só se sustenta quando reconhece suas raízes. No entanto, ela também revelou o quanto negligenciamos essa base. Afinal, quem não cita, inventa — e quem inventa sem base, destrói.
A revolução da IA, no entanto, é muito mais profunda do que supomos. Como mostrado em Inteligência Invisível, (https://www.linkedin.com/pulse/intelig%C3%AAncia-invis%C3%ADvel-marcelo-molnar-huaof/?trackingId=N6CkmVTH6SU18%2BC9vgL7jg%3D%3D) a IA deixou de ser uma ferramenta de auxílio para se tornar uma infraestrutura invisível da sociedade. Seus algoritmos já moldam decisões financeiras, diagnósticos médicos e estratégias geopolíticas, operando debaixo da superfície, sem cerimônia nem anúncios. A queda vertiginosa dos custos de processamento e o avanço impressionante das capacidades dos modelos abriram a caixa de Pandora: agora, pequenas empresas, governos locais e indivíduos têm acesso a uma potência cognitiva que antes era monopólio de grandes centros de pesquisa. Não estamos mais adaptando a IA ao mundo. Estamos reconstruindo o mundo sobre a IA — sem perceber.
Nesse novo cenário, as velhas dicotomias políticas também falharam. Como mostra Seis Refrações do Pensamento Humano (https://www.linkedin.com/pulse/seis-refra%C3%A7%C3%B5es-do-pensamento-humano-marcelo-molnar-bcyvf/?trackingId=a20rwkv46V0i5UdrudVsZw%3D%3D), a maneira como diferentes perfis absorvem, filtram e utilizam a informação é infinitamente mais complexa do que o binarismo entre conservadores e progressistas nos faria acreditar. Existe o conservador revolucionário que usa a IA para reforçar a ordem. O progressista retrógrado que teme sua desumanização. E todos os matizes entre esses extremos. A tecnologia, ao invés de ser um divisor claro, tornou-se um espelho multifacetado, refletindo as ansiedades, ambições e contradições de cada grupo. A inteligência artificial, nesse sentido, não cria novos conflitos, mas amplifica os que já existiam, tornando-os visíveis em suas camadas mais profundas.
Mas enquanto o debate público se perde em simplificações, há uma engrenagem obscura operando em velocidade máxima (https://www.linkedin.com/pulse/engrenagem-obscura-marcelo-molnar-wy99f/?trackingId=BefS57obVqIAXw8kmiGDmw%3D%3D). Os grandes movimentos de opinião, a ascensão de líderes populistas e até as pautas que parecem “surgir do nada” muitas vezes são o produto de conversas coordenadas em chats privados, onde bilionários, estrategistas e tecnólogos reprogramam silenciosamente o campo de batalha cultural. A espontaneidade que atribuímos aos fenômenos contemporâneos é, em grande parte, uma ilusão. Por trás da superfície caótica das redes sociais, existe uma arquitetura precisa de influência e manipulação. E a IA, como ferramenta de personalização e segmentação narrativa, é o trunfo dessa nova elite invisível.
Essa realidade se torna ainda mais inquietante quando compreendemos o papel do Fator “D” (https://www.linkedin.com/pulse/mentes-sombrias-m%C3%A1quinas-marcelo-molnar-ryhnf/?trackingId=N9f1ojbqStn9%2By6Fs9G8CA%3D%3D). Narcisismo, maquiavelismo, psicopatia — traços sombrios da personalidade humana que, antes limitados a círculos restritos, agora se amplificam no ambiente digital. Algoritmos, desenhados para maximizar engajamento, inadvertidamente promovem comportamentos que apelam às emoções mais primitivas. A IA, treinada com dados humanos, replica nossos vícios com eficiência assustadora. Se o Fator “G” mede a inteligência geral, o Fator “D” mede a capacidade de manipular, explorar e destruir laços sociais. E hoje, essas duas inteligências coexistem e se entrelaçam nos sistemas que nos conectam, nos informam e, paradoxalmente, nos dividem.
Tudo isso nos leva a uma última reflexão, talvez a mais desconfortável: como estamos usando essas tecnologias? Como alerta Tecnologia é Ferramenta, Não Muleta (https://www.linkedin.com/pulse/tecnologia-%C3%A9-ferramenta-n%C3%A3o-muleta-marcelo-molnar-yvi5f/?trackingId=LPOWDo9U5R5XsC%2Fig5xvBg%3D%3D), o problema não está na IA em si, mas na nossa relação com ela. A pesquisa da Microsoft e da Carnegie Mellon mostrou que a dependência passiva da inteligência artificial pode atrofiar o pensamento crítico. Não porque a IA emburrece, mas porque nós mesmos optamos, muitas vezes, pela preguiça intelectual. Assim como um aluno que, confiando demais na calculadora, esquece a lógica por trás dos números, muitos usuários contemporâneos depositam na IA a responsabilidade que deveriam assumir: a de interpretar, questionar, discernir. Em Defesa da Sobrevivência Cognitiva, é urgente resgatar o protagonismo do pensamento humano diante das facilidades oferecidas pelas máquinas. A inteligência artificial expõe uma ferida antiga: a tendência humana de terceirizar a responsabilidade pelo próprio pensamento.
Perguntar ao ChatGPT
E aqui se fecha o círculo: a desestruturação da cultura de citação, a ascensão da inteligência invisível, a fragmentação do pensamento ideológico, a manipulação silenciosa das narrativas, a amplificação dos traços sombrios e a acomodação do raciocínio humano são faces distintas da mesma crise. Não é a IA que ameaça nossa autonomia. É a nossa renúncia silenciosa à complexidade. A pressa em consumir sem questionar. A facilidade em confiar sem compreender.
O que parecia ser apenas uma sucessão de fenômenos isolados revela, na verdade, uma engrenagem sistêmica: a substituição da construção coletiva do saber por fluxos de estímulos emocionais desconexos. O conhecimento verdadeiro não desapareceu. Ele apenas recuou para os lugares que poucos ainda sabem procurar: nos rodapés, nas entrelinhas, nas perguntas incômodas. Em Defesa da Sobrevivência Cognitiva, entender isso não é apenas um exercício de reflexão. É uma questão de sobrevivência cognitiva. Porque, no fim, o que ameaça o futuro não é a existência de máquinas cada vez mais inteligentes, mas sim a existência de humanos cada vez menos dispostos a pensar.
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