Última atualização: 31 de agosto de 2022
Tempo de leitura: 6 min
Estamos em crise. Confesso que não me lembro de viver em uma época sem crises. Elas podem ser de saúde pública, política, social, moral, internacional, energética ou econômica. O que mais escuto nos meios de comunicação são os relatos e análises sobre instabilidades, incertezas, colapsos, recessões, paralisações, conflitos, perturbação, disputas, escassez, desequilíbrios, dificuldades, apertos e tantos outros sinônimos utilizados dependendo do contexto. A “bola” ou “bolha” da vez é a inflação. O interessante é que a economia nada mais é que a história do que as pessoas fazem com – e como – gastam seu dinheiro e seu tempo, nos aspectos quantitativos e qualitativos de sua existência. Isso não só na economia, mas em todas as atitudes enquanto indivíduo ou sociedade. O problema é que quando a história se torna barulhenta e confusa demais para ser interpretada, as pessoas começam a esperar o pior.
Narrativas conflitantes são coloridas por diversas interpretações, e discernir o que realmente está acontecendo torna-se quase impossível. O que as pessoas temem acaba acontecendo e agora, com o volume de dados cada vez maiores, as expectativas criam uma situação ainda pior. Os indicadores econômicos formam um desenho rebuscado de dados e tendências. Se pensarmos bastante sobre eles, tudo faz sentido, mas há muito o que interpretar. As teorias sobre o que fazer é relativamente conhecida, mas quando juntamos pandemia, guerra, desequilíbrio climático e problemas gerais nas cadeias de suprimentos, o cenário fica mais desafiador.
Muitos culpam a inflação pela manipulação de preços e, definitivamente, há um fundo de verdade nisso. No entanto, o mercado publicitário criando desejo de consumo de coisas desnecessárias só contribui para piorar o cenário. Vivemos nesta insana engrenagem de oferta e procura, movimentando os indicadores da saúde do sistema econômico mundial. Uma crise no fornecimento energético, como gás natural e petróleo, contamina todos os mercados. Quando os preços da energia sobem, tudo tem que subir de preço, e isso resulta em um ambiente sombrio.
Porém, não podemos esquecer que são as percepções das pessoas moldam a economia. E essas percepções são moldadas pela mídia. Esse entrelaçamento ocorre em todas as esferas. O desenvolvimento tecnológico potencializou o discurso de conscientização e colaboração e, nas mesmas proporções, das competições e comparações. Praticamente não existe nenhuma atividade que não seja organizada em rede. O que até recentemente era incontrolável se tornou insuportável.
Essa provavelmente será uma das primeiras crises econômica em um ambiente dominado pela desinformação. A retroalimentação da desinformação nos desvia da solução de problemas importantes. Em uma sociedade que acredita que a Terra é plana, que as vacinas não têm eficácia e fazem mal à saúde, que o aquecimento global é modismo de ambientalistas, o que podemos esperar sobre racionalidade de consumo e lógica econômica em um período inflacionário?
A desinformação reforça conceitos questionáveis como a teoria de que armar a população traz mais segurança. Que ações populistas consolidam o processo democrático. Que o desmatamento é bom para o agronegócio. Que a cor da pele determina o potencial intelectual ou caráter de um indivíduo. E tantas outras discussões sociais que deveriam estar superadas, ou ao menos pacificadas nos dias de hoje.
Sempre que posso reforço a importância dos profissionais de comunicação nos cenários de crises. Precisamos de ajuda de especialistas e de instituições sérias, justas e equilibradas. Perdemos a harmonia entre ouvir e falar. Entre ler e refletir. Não conseguimos mais separar os ignorantes engraçados dos notáveis conscientes. O viés ganha de lavada da imparcialidade. Só acreditamos e propalamos o que corrobora com nossos pensamentos. Entretanto, tenho certeza de que essa será mais uma das tantas crises que superaremos. Será difícil, mas conseguiremos superar. Acredito que as próximas gerações tirarão grandes aprendizados deste momento que estamos passando. Platão já dizia que a necessidade é a mãe da inovação. Muitas coisas pareciam impossíveis até que alguém consegui realizar. Sempre é possível descobrir caminhos promissores mesmo que eles estejam escondidos em momentos desfavoráveis. Uma crise sempre será uma oportunidade.
⠀
Conheça o BOX360º – Uma nova experiência em análise de dados
⠀
Leia mais:
Compartilhe:
Descubra como a sua empresa pode ser mais analítica.