Comunicação: o desafio de inovar

Última atualização: 18 de maio de 2022
Tempo de leitura: 4 min

Tempos atrás escrevi um artigo que falava sobre originalidade. Sempre me preocupo em pesquisar, estudar e apresentar algo novo, principalmente quando falo sobre comunicação. Abordar temas que em princípio podem parecer óbvios, mas passam despercebidos pela maioria das pessoas. Olhar por um novo ângulo. Imagino que o ineditismo é bom e aguça a curiosidade. Afinal, é natural presumir que as pessoas preferem temas inovadores e interessantes, em vez de ler sobre algo que elas já conhecem. Descobri que estou errado.

Segundo as pesquisas de Gus Cooney, psicólogo social da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, quem apresenta o desconhecido, em comparação com assuntos que já são familiares, sofre o que ele definiu com “punição por novidade”. Ele explica que essa “punição” surge devido às “lacunas de informação”. Quando apresentamos algo completamente novo, nossa audiência pode não ter conhecimento suficiente para compreender tudo o que estamos dizendo e perde o interesse. Mas, se estivermos falando sobre algo já familiar, os próprios públicos podem preencher essas lacunas. A punição por novidade acontece quando descrevemos um assunto impactante, mas que provocam distração nas pessoas, que então mudam seu foco de atenção.

Quando a experiência é incomum e vibrante em nossas mentes, acreditamos que também será para as outras pessoas. Infelizmente isso não é uma verdade, na maioria das situações. O novo é desconfortável. Nos assusta. Exige concentração e desprendimento de preconceitos. Lidar com o desconhecido é estressante. Porém, paradoxalmente, estamos eternamente nos desafiando a inovar e nos diferenciar.

Quando falamos em inovação na comunicação sempre pensamos nos avanços tecnológicos e na importância da valorização do ser humano, certo? Mas, e se pensarmos de outra forma?

Venho afirmando que a comunicação entre humanos está perdendo o protagonismo. Em um futuro próximo, a comunicação entre nós e nossos dispositivos será mais valiosa. Talvez não seja a mais agradável e prazerosa. Muito do que falamos ou escrevemos é tecnicamente dispensável. Ainda mais nos dias de hoje, quando todos acreditam ter algo relevante a compartilhar.

Além disso, nós temos dois grandes problemas. Não sabemos viver sem mentir, e nossa memória é extremamente falha. Quando somos questionados, normalmente racionalizamos para responder o que é socialmente correto, ou dizemos o que esperam ouvir. Raramente falamos a verdade. O processo de comunicação entre humanos é tão falho, que mentimos para nós mesmos. Diariamente. É uma forma de superarmos as dificuldades e enfrentarmos situações desconfortáveis.

Por outro lado, os dispositivos, se bem calibrados e em perfeito funcionamento, apresentam as informações com gélida verdade e sem distorções. Sem interpretação. E hoje o que não nos falta são aparelhos que nos acompanham. Podemos estar acordados, trabalhando, nos divertindo ou dormindo. Eles estão sempre presentes registrando tudo. Assistindo movimentos, sons e alterações ambientais. E a tendência é aumentar a cada dia.

Além da comunicação entre os humanos e os dispositivos, existe a comunicação somente entre as máquinas. Tudo acontece e nem nos damos conta. Só percebemos quando algo dá errado e aí descobrimos o quanto essa troca de informações facilita nossa vida. Exemplos não faltam. O dispositivo do “sem parar” do carro com as cancelas do pedágio. Nossos celulares informando onde estamos fisicamente ao GPS. Nosso tênis compartilhando com nossos amigos a performance da corrida. Estamos cercados de sensores responsáveis pela captação de dados, que quando conectados com outros dispositivos, de forma previamente definida, executam as ações programadas.

Será que o futuro da comunicação não será nos conscientizar que não somos a parte mais importante do processo, mas aquela que mais terá benefícios com as inovações tecnológicas? Informações corretas, precisas, confiáveis e consistentes nunca foram nossa especialidade. Somos uma espécie imperfeita e em evolução. Como Albert Einstein provocou em sua célebre frase: “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. O que acontecerá no setor da comunicação nos próximos anos será excepcional. Temos sorte de trabalharmos nesta área. Poderei ser “punido pela novidade”, mas manterei o esforço de procurar uma realidade diferente.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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