Transformação Analítica em tempos de pandemia

Última atualização: 6 de abril de 2020
Tempo de leitura: 6 min

O mundo parou ou está de ponta cabeça? Aplicando conceitos de transformação analítica, ou simplesmente observando, vemos coisas interessantes nesses últimos dias. Ser antissocial se tornou saudável e recomendado.

Usar máscaras ficou cool. Lavar as mãos, um seguro de vida. Respirar normalmente, uma capacidade de atleta. A tecnologia permitiu realizações de grandes eventos, mesmo que fisicamente estejamos distantes. Shows foram trocados por “lives”, ou seja, um tipo de sarau dos tempos modernos.

Noticiário jornalístico virou samba de uma nota só. Médicos infectologistas transformaram-se em estatísticos pessimistas. Enfermeiros, em soldados. A privacidade, um artigo primitivo. Os governos populistas, a salvação das economias. Pode produzir, mas comercializar não pode. A não ser se for pelo site. Os motoqueiros transformaram-se em heróis improváveis. E toda a população foi convidada a ser participante do Big Brother, confinados em suas próprias casas, onde o paredão é a roleta russa da contaminação.

Ok! Prever e evitar crises é impossível. Mas são nessas fases da vida que recordamos dos limites dos recursos naturais, financeiros e planetários. Uma oportunidade para reflexão.

Talvez esse seja o lado bom da quarentena, se é que existe lado bom. Esta situação nos ensina que podemos consumir menos, viver com menos coisas e tentar entender o comportamento da sociedade, mesmo na pluralidade cultural e religiosa. Parece que o ponto comum de todos os analistas é que depois do covid-19 o mundo jamais será o mesmo.

Não é a primeira e nem será a última pandemia que a humanidade terá de enfrentar. Gripe Espanhola, Peste Bubônica, Varíola, Tifo, Cólera, Tuberculose entre tantas outras que já vencemos. A pergunta é: o que acontece depois? Assistiremos o desenvolvimento de vacinas, incremento do saneamento básico universal, descoberta de novas drogas, e várias outras mudanças científicas e sociais.

Hoje em dia temos um cenário inédito envolvendo tecnologia avançada, comunicação integrada, economia globalizada e, mesmo assim, o momento não se torna menos desafiador. O ser humano continua sendo frágil, apegado à vida e extremamente despreparado para a morte. Mesmo sabendo que cedo ou tarde ela será inevitável. Desde os primórdios da Civilização, a morte é considerada um aspecto que fascina e aterroriza a Humanidade. A morte como fenômeno físico já foi exaustivamente estudada e continua sendo objeto de pesquisas, porém permanece sendo um mistério impenetrável quando nos aventuramos no terreno do psiquismo. Foram muitos os pensadores, historiadores, sociólogos, biólogos, antropólogos e psicólogos a discutir o assunto no decorrer do tempo.

O contra ponto – a imortalidade – é defendido por alguns cientistas, futurólogos e filósofos, como Ray Kurzweil. Alguns creem ser possível alcançar a imortalidade ainda na primeira metade deste século.

Outros acreditam que o prolongamento da vida é uma meta mais viável em um futuro indefinido, com novos avanços do conhecimento, da medicina e da tecnologia. Aubrey de Grey desenvolveu uma série de estratégias de rejuvenescimento biomédicos para inverter o envelhecimento humano (chamado SENS) e, segundo ele, elas já poderão ser implementadas em algumas décadas.

Contudo, a ausência da degradação celular proporcionará aos seres humanos a imortalidade biológica, mas não a invulnerabilidade à morte por lesão física ou por ataques biológicos (surgimento de doenças desconhecidas e sem cura), como a que estamos passando neste momento.

Enquanto a vida eterna não é realidade, o avanço tecnológico e os processos da transformação analítica nos oferecem algumas possibilidades de existência atemporal. Podemos produzir conteúdos e armazená-los para serem usados no futuro, como já fazemos no congelamento de óvulos e esperma. Hoje, por exemplo, um pai, antes de morrer, pode deixar arquivos gravados para seus filhos com aconselhamentos ao longo da vida.

Artistas podem produzir shows a serem exibidos de forma inédita, mesmo depois de falecidos. Vou além. Conseguimos registrar e processar grande volume de informações de um único indivíduo, como se fosse o escaneamento de tudo o que essa pessoa falou, escreveu, gravou, interagiu, e de todas as decisões que tomou durante sua vida. Dessa forma, utilizando algoritmos de inteligência artificial será possível prever seu comportamento em novas situações. Paralelamente, por meio de recursos de deepfake, já é possível manipular códigos e programas de edição visual.

Através de uma tela de computador, poderemos interagir com um vídeo, sem saber se a pessoa do outro lado existe ou existiu, fazendo perguntas que nunca foram feitas e obtendo respostas que nunca foram dadas.

O fato é que precisamos pensar e construir um mundo novo. Evoluímos por opção ou por obrigação. A tecnologia nos possibilita ter esperanças após vida, o que a princípio parece um contrassenso. Muitas invenções foram desenvolvidas para serem utilizadas de uma forma, e depois encontramos novas utilidades.

As limitações humanas sempre foram estímulos para o progresso. As dificuldades são combustível para superação. O conceito de transformação analítica de hoje e a inteligência artificial de amanhã modificarão profundamente a definição de viver e de morrer.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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