O Maravilhoso Mundo das Informações

Última atualização: 26 de julho de 2023
Tempo de leitura: 6 min

Sejam bem vindos ao maravilhoso mundo das informações. Análises e interpretações são valiosas em qualquer tempo. Recentemente, a BBC Culture colocou “Alice no País das Maravilhas”, de Charles Lutwidge Dodgson, publicado em 1865 sob o pseudônimo de Lewis Carroll, em segundo lugar na pesquisa de Melhores Livros Infantis. Acredito que todos nós temos lembranças desta história. Se fosse nos dias atuais, Dodgson seria ferozmente criticado. Embora não haja provas de nada explicitamente desagradável em seu relacionamento com crianças, é difícil não considerar suspeito um homem adulto que não apenas enviava cartas cheias de trocadilhos, insinuações e quebra-cabeças, solicitando mechas de seus cabelos, mas que costumeiramente pedia que elas se sentassem em seu colo e posassem para fotos, às vezes nuas ou seminuas. Basta um bom influenciador para que essa obra seja cancelada.

Uma simples pesquisa na internet sobre as mensagens ocultas no livro faz surgir inúmeras teorias. Afinal, o que significa cair na toca do coelho? O conto fala sobre bolos mágicos, portas secretas, gatos sorridentes, chapeleiro maluco, entre tantos outros personagens. Vários críticos, estudiosos e blogueiros afirmam que este inocente clássico juvenil é uma alegoria sobre a cultura das drogas e sexo, ou uma parábola sobre a colonização britânica. Existe até uma síndrome neurológica com o seu nome, caracterizada por causar episódios de distorção e de desorientação da percepção. A pessoa com essa síndrome pode se sentir maior ou menor do que realmente é.

Quase dois séculos depois, algumas de suas frases são extremamente atuais: “Se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve.” Ou “Eu não estou louca. Minha realidade é apenas diferente da sua.” Ambas do Gato de Cheshire. “A imaginação é a única arma na guerra contra a realidade.” “Eu não posso saber tudo.” Existem centenas delas. Assim como Alice, nós hoje estamos mergulhados em um maravilhoso – e às vezes desconcertante – mundo das informações. Vivemos uma realidade que muitas vezes se estica e contorce de maneiras que desafiam a nossa lógica e a compreensão.

Assim como o Chapeleiro Maluco, a Inteligência Artificial Generativa (IAG) se apresenta hoje como um guia misterioso e enigmático que fornece informações e conselhos, embora nem sempre de maneira direta ou clara. A web funciona como um recurso onipresente em nossas vidas digitais. A IAG pode ser um símbolo de autoridade e poder, produzindo versões que permitem nos ajudar bastante, desde que façamos as perguntas certas. O que convenhamos, não somos educados a fazer.

Tecnologias de aprendizado de máquina, capazes de criar representações convincentes e quase indetectáveis de vozes, imagens e vídeos, começam a se fazer presentes em shows e na publicidade. Ao utilizar algoritmos de aprendizado profundo, os deepfakes treinados conseguem imitar a aparência ou a voz de uma pessoa. Estamos impressionados com a maneira como estão aplicados para fins de entretenimento, trazendo atores e músicos falecidos de volta à vida em filmes, permitindo proezas inimagináveis. Como Alice, somos desafiados a navegar por um mundo onde a realidade é frequentemente distorcida e onde precisamos fazer reflexões críticas sobre o que vemos e ouvimos.

As informações correm como rios, cheias de detalhes, gráficos, estatísticas e fatos sobre todas as coisas. Assim como a menina perdida em um mundo surreal, muitas vezes nos encontramos confusos, ofuscados pelo volume e complexidade dessas informações. Se não sabemos o que fazer, qualquer informação serve. A falta de um propósito ou objetivo claro nos leva a consumir dados indiscriminadamente. Sem foco sobre o que realmente precisamos e queremos saber, temos a sensação de que estamos sempre atrasados ou de que estamos perdendo alguma coisa.

Boas escolhas e decisões acertadas sugerem evitar dados e informações desnecessárias, afinal não precisamos nos esconder ou usar enormes quantidades de evidências como desculpa. O processo do dia a dia nos deixa tão atarefados e envolvidos na coleta de dados que evitamos ou perdemos o momento correto para tomar decisões. Afinal, dados e registros são apenas insumos e não escudos para situações difíceis que parecem assustadoras ou desafiadoras. Usamos a representação de um funil abobalhado e infantil para direcionar nossos esforços. Tratamos os negócios achando que a interpretação do comportamento humano é previsível.

No final das contas, no mundo atual, a verdadeira sabedoria não vem da quantidade de fatos que podemos processar, mas de nossa capacidade de extrair significado e valor desses dados. Lembre-se disso quando você se aventurar na vastidão do Maravilhoso Mundo das Informações: Não é sobre o quanto você sabe, mas sobre o que você faz com o que sabe.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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