O Lado Sombrio do Sucesso: Como o Fator ‘D’ Define Quem Chega ao Poder

Última atualização: 9 de abril de 2025
Tempo de leitura: 4 min

Se existe uma verdade inegável sobre a humanidade, é a sua competitividade. A própria existência humana é moldada por um processo seletivo implacável: uma corrida de milhares de espermatozoides em busca de um único óvulo. Desde o início da vida, somos programados para competir. No entanto, a experiência demonstra que os mais altruístas raramente chegam ao topo. Em qualquer estrutura de poder, seja na política, no mundo corporativo, no esporte ou nas relações interpessoais, quem alcança o sucesso e se mantém nele muitas vezes compartilha traços psicológicos específicos – o lado sombrio do sucesso.

O chamado Fator “D” refere-se à presença de traços de personalidade sombrios que podem definir estratégias de ascensão e dominação. A Tríade Sombria, composta por narcisismo, maquiavelismo e psicopatia, descreve três padrões psicológicos que, combinados, formam um perfil de alta eficiência para a busca pelo poder.

O narcisismo se manifesta na necessidade de admiração e na crença inabalável na própria superioridade. Indivíduos narcisistas são carismáticos e persuasivos, qualidades que os tornam líderes naturais e capazes de atrair seguidores. O maquiavelismo é a habilidade de manipular, enganar e instrumentalizar os outros em benefício próprio, sem se apegar a princípios éticos rígidos. Já a psicopatia envolve ausência de empatia, impulsividade e resistência ao estresse, características que permitem a tomada de decisões frias e calculistas em situações de alta pressão.

Embora socialmente condenados, esses traços podem oferecer vantagens significativas na competição pelo poder. A ideia de que o sucesso recompensa os justos e meritocráticos é mais mito do que realidade. A história e os acontecimentos contemporâneos estão repletos de exemplos de figuras influentes que exibem padrões comportamentais alinhados com a Tríade Sombria. Grandes líderes políticos, magnatas empresariais e até ícones esportivos muitas vezes compartilham essas características. Não é que o poder os transforme, mas sim que ele lhes dá a oportunidade de serem quem realmente são, sem as limitações impostas por normas sociais comuns.

O que faz com que esses traços prevaleçam? A resposta está na própria natureza do jogo social. A competição é intensa e raramente premia aqueles que hesitam. Pessoas empáticas, que seguem regras morais rígidas ou evitam prejudicar os outros, frequentemente ficam para trás em ambientes altamente competitivos. Por outro lado, aqueles que manipulam, seduzem e impõem sua vontade têm maiores chances de subir e se manter no topo.

Isso não significa que todos que chegam ao poder sejam essencialmente malignos. No entanto, indica que os sistemas que estruturam nossa sociedade frequentemente favorecem traços de dominação, frieza e manipulação. E a questão mais inquietante é: até que ponto o sucesso está realmente atrelado à ética? Se os traços do Fator “D” oferecem uma vantagem estratégica, significa que o próprio jogo social favorece sua proliferação.

O grande dilema moral é que, embora essas características sejam eficazes para a conquista do poder, elas também podem levar a comportamentos destrutivos. Ambientes dominados por indivíduos de alto Fator “D” tendem a ser marcados por ciclos de exploração, corrupção e instabilidade. No entanto, paradoxalmente, são esses mesmos indivíduos que mantêm a ordem e garantem o funcionamento das instituições. Eles criam, controlam e quebram as regras conforme necessário para preservar sua posição.

Como sociedade, é fundamental refletirmos sobre essa dinâmica. Se o poder tende a ser conquistado e mantido por aqueles com traços sombrios, como podemos criar mecanismos que limitem os impactos negativos dessa realidade? O lado sombrio do sucesso revela um padrão inquietante, em que características potencialmente nocivas são recompensadas com influência e autoridade. As estruturas de governança, a transparência e o fortalecimento da consciência coletiva podem ser alternativas para equilibrar esse jogo. O reconhecimento desse padrão não deve levar à resignação, mas sim à busca por um entendimento mais profundo sobre a natureza do poder e os perfis que ele favorece.

O Fator “D” nos lembra que o mundo não é um campo de jogo justo. Para sobreviver e prosperar, entender a psicologia da dominação e da manipulação é essencial. No fim, a pergunta que fica é: será que estamos preparados para enfrentar essa verdade?

Compartilhe:

Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

Posts relacionados
O Conhecimento Está no...

No mundo acadêmico, há um pacto silencioso que sustenta a produção de...

Leia mais >
Sinais Fracos: a Arte de...

Diariamente, somos bombardeados por manchetes sensacionalistas, algoritmos que...

Leia mais >

Entre em contato

Descubra como a sua empresa pode ser mais analítica.