O excesso de informações é o maior desafio da humanidade

Última atualização: 6 de março de 2018
Tempo de leitura: 3 min

Atualmente, a grande preocupação entre muitos cientistas especializados em comportamento humano são os efeitos do excesso de informações. Todos nós queremos mais acesso aos dados. Todos queremos conectividade fácil e gratuita. Todos queremos cada vez mais disponibilidade de conteúdo. Queremos tudo de forma imediata. Queremos tudo em formato multimídia, com imagens, sons e textos perfeitos. Nosso maior desejo é saber as coisas antes delas acontecerem. O mundo das comunicações virou uma promessa, tipo cartomante digital, que promove o sensacionalismo e a competição. Devido a esse comportamento, os cientistas estão se questionando sobre esse fluxo intenso e os impactos deste grande volume de estímulos nos nossos cérebros. Estamos nos tornando zumbis digitais.

Sou contra a política do pânico, mas o fato é preocupante. As consequências deste cenário de abundância são diferentes dependendo da idade. Como serão nossas crianças no futuro próximo? E os nossos jovens? Porém, o mais impactante é ver o retrocesso de alguns adultos hoje. O fato importante, por muitos despercebido, é que humanamente, não temos condições de assimilar, entender, e digerir todo esse volume de registros. Somos todos, de certa forma, ignorantes atualizados e bem informados.

Os números provam isso. Recentemente a divisão Youtube do Alphabet, no seu último relatório aos investidores, revela que os usuários estão assistindo mais de um bilhão de horas de vídeo por dia. Os usuários de dispositivos móveis estão transmitindo mais de 500 milhões de horas por dia, e os dispositivos de sala de estar, como TVs inteligentes e consoles de jogos, atingiram 100 milhões de horas diárias. No geral, o Youtube informa que 1,5 bilhão de usuários regulares, assistem em média 60 minutos por dia.

A Netflix possui 53 milhões de assinantes pagos nos EUA. Isso é quase metade de todos os agregados familiares americanos. O Netflix e o Youtube estão crescendo. As receitas publicitárias no Youtube também estão crescendo. A Apple, seguindo a tendência, agora produzirá seu próprio conteúdo original, e o Youtube acaba de lançar um serviço de TV paga. Isso sem contar, sites, blogs, podcasts, rádios, jornais, portais, revistas, TV aberta, redes sociais, WhatsApp, etc. Tudo junto e misturado.

Mas a solução para todo esse excesso de informações não será voltarmos ao tempo das cavernas. Não será o bloqueio das redes. Sempre será defensável a “neutralidade da rede” assegurando comunicações “livres e abertas” para todos. Isso é fundamental neste ambiente dinâmico que vivemos. Mas será que as Fake News são direito de todos? Os profissionais de comunicação devem focar na qualidade, na triagem, na segurança, na prioridade, na distinção entre realidade e ficção, ou na distinção entre verdade e propaganda. Mas cabe aos indivíduos o divino esforço da reflexão.

No futuro próximo será necessário controlar as informações como hoje tentamos controlar as drogas. Alguns poucos conseguem conviver de forma recreativa. Mas a grande maioria se torna dependente. Nossos cérebros estão alterando o nível de consciência com essa abundância. O excesso de informações está criando novas conexões que causam efeitos alucinógenos. Aspirada, fumada ou injetada, não importa. As informações parecem entrar na corrente sanguínea e penetra no cérebro anestesiando o raciocínio. Simples comentários estabelecem um intenso sentimento de euforia, causado pela sobrecarga de estímulos. A sensação de prazer é tão forte que continuamos a desejar mais e mais.

O aumento geométrico na disponibilidade das informações, está resultando em uma sociedade baseada em preconceitos, superstições, e ideias sem fundamento. A falta de análise resulta no radicalismo. O influente filósofo grego Aristóteles afirmou: “O ignorante afirma, o sábio dúvida, o sensato reflete.” Esta afirmação revela que uma das bases da aquisição do conhecimento é ter dúvida. O que parece impossível em um mundo com cada vez mais certezas.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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