Última atualização: 4 de maio de 2022
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Mesmo criticado pelo uso do termo por renomados estudiosos, projetar um “novo normal” está na imaginação de todos nós nestes últimos tempos. O desafio é que em algumas situações nunca existirá um “novo”, para outras nunca seremos “normal”. Paralelamente, tem crescido o número de especialistas que têm como atividade profissional pensar sobre as prováveis mudanças dos nossos comportamentos e da nossa sociedade como um todo. Várias são as ideias que demonstram possibilidades, recompensas e que inspiram as transformações.
Que bom seria se, nesse novo normal, pudéssemos corrigir nossos principais problemas civilizatórios. Desde o começo do século passado enfrentamos guerras, bolhas, crises e pandemias que obrigatoriamente nos impõe desafios e ajustes sociais. Continuamos vivendo em um mundo desigual, discriminatório, segregado e injusto. Incentivamos vetores contraditórios, pois esperamos crescimento econômico, com redução do consumo energético. O meio ambiente dá sinais claros de que algo diferente tem que ser feito. Será que conseguimos?
A participação da inteligência artificial neste novo cenário merece destaque. O que antes da pandemia era visto como uma tendência para um futuro não tão próximo, se tornou uma realidade. E esse movimento não aconteceu de forma espontânea, mas sim como resposta às necessidades geradas. Para se adaptar a diversos processos, houve investimentos para diminuir a intervenção humana, visando reduzir o contágio. Porém, bilhões de pessoas continuaram consumindo produtos e serviços mesmo com a limitação e restrição da circulação. A Covid-19 e suas variantes pode parecer que acabou aqui no Brasil, mas em boa parte do mundo ela continua a causar transtornos.
Lembro de ler um livro, em 2007, chamado “Massive Change” de Bruce Mau, na época em que trabalhava em uma agência de designer. Não era a minha praia, mas recordo do entusiasmo da equipe sobre as ideias e os conceitos apresentados. Era tipo uma cartilha sobre novas invenções, tecnologias recentes e eventos com potencial para alterar nossos destinos. A provocação era que tudo iria mudar.
Contrariando o grupo, sempre achei que as pessoas gostam de ouvir e falar de mudanças, mas a maioria realmente não quer mudar nada. O inverso também é uma verdade, pois as pessoas reclamam da rotina, mas a adoram.
Independente das preferências e opiniões individuais, fato é que, gostando ou não, as transições não param. Lutamos diariamente para acompanhá-las à medida que fatos previstos e imprevisíveis vão se sucedendo. Na área da comunicação a velocidade das transformações são assustadoras. Nos obrigamos a escrever com poucos caracteres e, mais recentemente, ouvirmos de forma acelerada até as mensagens de áudio. A área digital substitui modelos de negócios e econômicos, restabelecendo novas conexões interpessoais que ainda estamos entendendo e nos adaptando. As pessoas não querem se definir apenas pelos itens que compram ou pelo trabalho que fazem.
A necessidade de aprender a viver em um mundo em plena reconfiguração se aplica também ao trabalho. É preciso refazer planos profissionais e se reinventar. Para muitos, a crise significou perda de renda ou emprego. O que já não era bom, piorou. Mas alguns poucos estão conseguindo ver oportunidades e novos caminhos.
Evidentemente, não se trata de um caminho fácil. Exige muita pro atividade e criatividade. Mas é hora de se preparar para novos projetos e para a realidade que está chegando.
Recentemente li uma provocação que nós devemos deixar de ser “centrados no humano” para sermos “centrados na vida”. Parece sutil a diferença, mas altera fundamentalmente a maneira como percebemos o mundo e em quais são nossos objetivos e metas. Nossa responsabilidade não é apenas sustentar a vida humana e torná-la melhor. Devemos nos concentrar em planejar o bem-estar de toda a vida do planeta, a fim de sustentar a vida humana. Somos uma parte importante do processo, mas temos a obrigação e responsabilidade de analisar o sistema como um todo.
Nosso instinto é buscar segurança. Fazemos isso desde os tempos das cavernas. Mas absolutamente normal, ninguém é. Ficamos o tempo todo buscando a normalidade. Somos apegados a vida. Quando alguém, insistentemente, se arrisca, como dirigir depois de beber, ou usar drogas, criticamos e julgamos esses atos como anormais. Já quando uma pessoa busca recursos para se proteger e salvaguardar e, de alguma forma manter a saúde, julgamos como uma pessoa normal. O paradoxo do “novo normal” é mais que entressonho.
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