Última atualização: 18 de junho de 2021
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Durante muito tempo acreditamos que notícias eram fontes de conhecimento. Robert E. Park produziu um artigo em 1940 denominado: News as a form of knowledge – A notícia como forma de conhecimento – posicionando o jornalismo entre a familiaridade e o conhecimento. Notícias geram dados e dados geram notícias.
Hoje, as notícias assumem um caráter breve, onde é difícil aceitarmos que apresentem conteúdos fundamentados e bem-intencionados. Afinal, estamos na era das Fake News, da desinformação, da interpretação favorável e da distorção mentirosa. Em outros tempos escondíamos, protegíamos e guardávamos as informações valiosas. Hoje misturamos e camuflamos de tal forma que é difícil encontrar e separar o joio do trigo. É possível acreditar que as notícias são fontes de conhecimento?
Um dos caminhos encontrados para diferenciar versões de fatos, foi utilizar dados como forma de evidência e comprovação. O termo em inglês “Data-Driven Journalism” foi criado e começou a ser difundido em 2009 para nomear as iniciativas de produção de notícias a partir de dados estruturados.
Mais do que o “Jornalismo de Dados”, dedico atenção aos diversos volumes de dados que ele gera. Vou além da crescente participação dos dados numéricos que são usados na produção e distribuição de informações. Falo inclusive do aumento das interações entre produtores de conteúdos com vários outros campos, como do design gráfico, da ciência da computação e da matemática e estatística.
Se antes acreditávamos na subjetividade dos índices de audiência, hoje nos confortamos com números de visualizações, engajamentos, likes, compartilhamentos, emojis e tantas outras métricas difundidas no universo digital.
Crédito: Instituto de Pesquisa IDEIA – Pesquisa: Hábitos de Mídia do Brasileiro realizada em maio de 2021 para o Mídia.JOR – Futuras Gerações
Segundo o professor Andrei Karam Trindade, “não há argumento contra os fatos”. O mote parte da visão de que argumentos são inúteis e, portanto, dispensáveis diante de certos fatos. Normalmente, são feitas tentativas para evitar qualquer forma de oposição.
Por outro lado, o jornalista Marcelo Soares, afirma que “torturados, os números dizem qualquer coisa”. A manipulação só é possível porque os números são compostos de um incrível poder. No livro “Os Números (Não) Mentem”, o autor Charles Seife define o conceito: trata-se da “arte de empregar argumentos matemáticos para provar algo que nosso coração diz ser verdade” ainda não.
Muitas pesquisas são usadas em ações oportunistas permitindo aos jornalistas manter alguns assuntos em pauta. Seife reitera que, enquanto narram a disputa como “uma corrida de cavalos”, ajudam a distorcer a realidade. O problema é o uso de dados tecnicamente frágeis ou, o que é pior, com viés intencional para fundamentar um objetivo desejado.
Além do conhecimento, as notícias em forma de texto ou dados devem ser vistas como fonte de informação e reflexão. Existem argumentos contra os fatos, não apenas por contradição, mas também por contextualização. Hoje em dia, quando usamos ferramentas de inteligência artificial como o aprendizado de máquina, os computadores têm a capacidade de aprender de acordo com as respostas esperadas por meio da correlação de diferentes conteúdos, e podemos usar os mesmos dados para construir verdades ou mentiras.
Portanto, hoje, devemos focar na capacidade analítica do indivíduo. O desenvolvimento do pensamento crítico deve ser incentivado. A capacidade de processar informações de diferentes fontes e estabelecer conexões entre elas parece ser uma coisa simples e natural, mas, infelizmente, não é. Com evolução tecnológica, temos uma grande oportunidade de combinar as habilidades humanas com a objetividade lógica. Só poderemos superar a cultura polarizada e o maniqueísmo impregnado.
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