Última atualização: 23 de novembro de 2022
Tempo de leitura: 6 min
Acredito que todo profissional de comunicação adoraria poder saber o que passa na cabeça de seu público-alvo. Na verdade, esse poder deve ser o desejo de muitas atividades e profissões. Em ambientes com múltiplos estímulos e enormes quantidades de dados disponíveis concorrendo pela nossa atenção, possuir recursos que permitam identificar como a mensagem está sendo absorvida na mente das pessoas, revolucionaria todas as atividades de geração de conteúdo. A novidade é que essa possibilidade está mais próxima que imaginamos através de Inteligência Artificial (IA) .
Recentemente no bioRxiv, cientistas anunciaram a criação de um algoritmo de Inteligência Artificial que permite ler pensamentos. Através de uma técnica não invasiva, em conjunto com a ressonância magnética funcional, uma mulher e dois homens na faixa de 20 a 30 anos foram submetidos a 16 horas de podcasts e programas de rádio enquanto passavam pelo escaneamento do cérebro. O algoritmo comparou padrões no áudio com os padrões na atividade cerebral dos participantes.
O bioRxiv é um repositório aberto de fontes de divulgação e desenvolvimento de pesquisas direcionado as ciências biológicas, fundado em novembro de 2013 e hospedado pelo Cold Spring Harbor Laboratory (CSHL). Antes da fundação do bioRxiv, muitos biólogos dividiam-se na questão de ter um ambiente de acesso livre a qualquer cientista, preocupados em ter suas pesquisas “roubadas” pelos concorrentes. Porém, vários geneticistas compartilham seus artigos e usam essa plataforma para publicitar suas teorias e descobertas.
Este algoritmo, então, pode determinar qual história cada participante ouviu a partir de suas atividades cerebrais. A metodologia ainda não é perfeita, mas, mostrou que é possível rastrear o fluxo de sangue oxigenado com bastante precisão, apesar dos sinais elétricos liberados pelas células cerebrais serem muito mais rápidos que o fluxo sanguíneo. Experimentos deste tipo não ocorrem somente em laboratórios e ambientes controlados. Diversos países em variados segmentos desenvolvem atividades similares.
Apesar de parecer estranho, há mais de três anos, escolas chinesas vêm utilizando dispositivos de escaneamento cerebral em seus alunos. O objetivo é monitorar a atenção dos estudantes em sala de aula. Os professores conseguem identificar em tempo real, o quão focado um aluno está de acordo com o mapeamento do cérebro. Os níveis de atenção são sinalizados pelas cores que aparecem nos próprios dispositivos. O azul indica que o aluno está relaxado, o amarelo significa que o aluno está focado e o vermelho extremamente atento. Nem todos estão felizes e alguns pais acham que estão tratando seus filhos como robôs.
Por outro lado, alunos com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), com dificuldades para se concentrar, podem ter acesso a esse dispositivo como um sistema de neurofeedback, para sinalizar momentos de baixa performance. Outros gostariam de experimentar por mera curiosidade. Fato é que essa tecnologia dominará muitas áreas de estudo do processo de desenvolvimento do conhecimento humano normal. Devemos estar preparados para interações com as máquinas e com os novos recursos que surgirão em curto espaço de tempo.
Um dos pontos que devemos refletir é sobre a importância e envolvimento dos profissionais de comunicação na manipulação das informações. É inegável os benefícios, mas também sobre os riscos dessas tecnologias. Sabemos que há lavagem cerebral em toda a história do homem, e ninguém que tenha sofrido lavagem cerebral acreditará ou aceitará que sofreu tal coisa. Todos aqueles que a sofreram, usualmente, defenderão apaixonadamente os seus manipuladores, clamando que simplesmente lhes foi “mostrada a luz…”
Apesar dos avanços na engenharia, nos processamentos quânticos, na biotecnologia, na própria inteligência artificial e em tantos outros campos científicos, a comunicação é a área que mais influencia e impacta nossa existência como espécie humana. Precisamos desenvolver especialistas apaixonados e dedicados na construção de regras envolvendo a interação entre as pessoas e as máquinas. Não podemos negar e nem tão pouco rejeitar. Urge a participação ativa, consciente e responsável de profissionais de comunicação nessas áreas disruptivas da tecnologia.
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