Gêmeo digital: clonagem digital de informações

Última atualização: 23 de fevereiro de 2022
Tempo de leitura: 4 min

A manipulação e falsificação da realidade, que busca induzir alguém a pensar de determinada forma, é um dos maiores riscos do mundo digital. Isso sempre aconteceu e acontece no universo analógico. Parece que no mundo físico já estamos adaptados e acostumados, fingindo que está tudo bem. Mas quando isso acontece no mundo digital, traz um grande desconforto, e se torna um problema inaceitável para muitos. A sociedade moderna na qual vivemos, sempre se organizou através de instituições sólidas e responsáveis. Mas muito ainda deve ser estudado, discutido e analisado. Neste post, vamos falar do gêmeo digital.

Historicamente, a modificação dos genes num organismo causada pela atividade humana, começou por volta de 12.000 a.C. Entretanto, a manipulação genética como transferência direta de DNA de um organismo para outro, foi realizada pela primeira vez apenas em 1972. Dentre várias técnicas, temos a duplicação ou o conceito de clonagem. Um processo artificial pautado na reprodução de cópias genéticas idênticas de determinados seres vivos através de um filamento de DNA. Por questões éticas muito se discutiu sobre a moralidade da clonagem. Argumentos prós e contras a utilização da tecnologia para fins reprodutivos e/ou terapêuticos são debatidos até hoje.

No mundo digital, incorporamos a prática da clonagem com o uso do “Control C, Control V” (copiar e colar) para multiplicarmos textos, planilhas, imagens e até mesmo arquivos. Interligando os mundos real e o virtual, surgiu o conceito de “gêmeo digital”, que de uma maneira simplificada, se refere a cópias virtuais de uma peça, de um equipamento, processo ou ambiente já existente, capaz de usar vários recursos tecnológicos para interpretar situações e comportamentos. O primeiro exemplo prático surgiu na NASA, em uma tentativa de melhorar a simulação de modelos físicos de espaçonaves, em 2010.

A ideia de gêmeo digital foi antecipada no livro “Mirror Worlds”, de David Gelernter, de 1991. Mas ganhou notoriedade na indústria e nas publicações acadêmicas através de Michael Grieves, do Instituto de Tecnologia da Flórida, onde aplicou pela primeira vez o conceito na manufatura. O modelo foi apresentado publicamente em 2002 em uma conferência, onde se propôs experiências virtuais de produtos e serviços, criadas a partir da integração de sensores em um item físico.

A transposição do mundo analógico para o digital é de suma importância para simularmos situações em tempo real que facilitam nossa vida, sem consumo de substâncias físicas, com baixo consumo energético. Foi no mundo digital que desenvolvemos a percepção que estamos sempre atualizados, e com informações constantemente renovadas. O efeito colateral desta evolução foi que diante de tantas informações, perdemos a capacidade de distinguir, o verídico do não verídico, e muitas vezes acreditamos no falso em detrimento ao verdadeiro.

As redes sociais se desenvolveram como se fossem grandes laboratórios do comportamento humano. Nasceram com o papel de aproximar pessoas e criar relacionamentos, possibilitando a troca de informações com liberdade e inclusão. Atravessamos fronteiras e temos à nossa disposição ferramentas quase ilimitadas para a busca de conhecimento. No entanto, aproveitadores transvestidos de influenciadores utilizam desses meios para iludir e captar dados sem autorização para uso, no mínimo, duvidosos. Por se esconder em um mundo virtual, onde o indivíduo não sabe quem, ou o quê, está atrás da tela, ficou fácil criar uma segunda identidade ou produzir “fake news”.

Diversas instituições defendem a necessidade de leis e regulamentações. A ética novamente é invocada. Mas no mundo científico e tecnológico, não será restringindo o que é bom que conseguiremos eliminar o que é ruim. Assim como a evolução genética permitiu mutações e recombinações gênicas, favorecendo adaptações ao ambiente físico, será no mundo digital. Precisamos de dispositivos inovadores para enxergar corretamente os novos cenários.

O metaverso, gêmeo digital do nosso mundo real, é um caminho irreversível. O figital – fusão das palavras físico e digital – nos trará inúmeras experiências híbridas e possibilidades hoje inimagináveis. A Web3 promete um ambiente onde as máquinas vão colaborar com os seres humanos de forma mais eficaz. Será uma rede mais equitativa e o poder será distribuído. A Web3 usará a tecnologia blockchain, que cria blocos formando cadeias de dados, permitindo a rastreabilidade de todas as atividades. Será cada vez mais difícil se esconder e se manter no anonimato.

Nesta nova realidade não haverá vida fácil, nem para amadores e nem para especialistas. Hoje, lidar com informações exige equipes, processos, plataformas robustas e profissionais. Os dados são abundantes e precisamos separar o que é repetitivo (clonagem), do que é complementar. E analisar o contraditório. As opções são muitas, as escolhas são difíceis e precisamos desenvolver novas habilidades para não sermos traídos nas dúvidas e nem nas convicções.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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