Última atualização: 12 de junho de 2024
Tempo de leitura: 5 min
Em meus mais de quarenta anos de experiência profissional, testemunhei transformações profundas na maneira como as informações são produzidas, distribuídas, monitoradas e consumidas. A era digital, iniciada pela internet, recentemente marcada pela ascensão das redes sociais e pela democratização do acesso à informação, trouxe consigo desafios inéditos e complexos. Um dos mais intrigantes são os comportamentos assimétricos entre as intencionalidades dos produtores de conteúdo e os preconceitos dos receptores dessa informação.
A intencionalidade, ou as motivações por trás da criação e disseminação de informações, nunca foi tão complexa, multifacetada e, por vezes, obscura. Seja impulsionada por agendas políticas, objetivos comerciais ou simplesmente pelo desejo de capturar a atenção em um ambiente saturado de conteúdo, a intencionalidade molda a narrativa de maneiras que nem sempre são transparentes para o público. Paralelamente, a receptividade dessa informação é filtrada através de uma caótica rede de preconceitos cognitivos e culturais, que distorcem a percepção e prejudicam a interpretação dos dados recebidos.
Essa dinâmica não é apenas a luta pela atenção, mas a batalha pelo engajamento e pela confiança do receptor. O triste resultado são as câmaras de eco que limitam a exposição e restringem as perspectivas divergentes. Sem tempo para reflexões profundas, desenvolvemos uma forma adaptável para concordar com a veracidade das informações. Comportamentos Assimétricos surgem quando indivíduos selecionam seletivamente a informação que confirma suas crenças preexistentes, ignorando evidências contrárias.
Encontramos um cenário parecido quando colocamos em oposição o uso frio dos dados versus a sensibilidade e a experiência humana na tomada de decisões. Enquanto os dados podem orientar estratégias e oferecer uma visão geral das tendências, a comunicação eficaz requer uma abordagem que valorize a empatia, a criatividade e as nossas conexões. Entretanto, o que deveria ser complementariedade se torna um confronto. Escolher um ou outro não parece a melhor opção, pois precisamos de mensagens que não apenas informem, mas também inspirem e ressoem em um nível profundamente humano.
O uso de algoritmos e da inteligência artificial nos ajudam a identificar tendências e padrões onde normalmente não percebemos. No entanto, a habilidade de contar histórias que capturam as nuances das nossas experiências, destacando vozes individuais e contextos sociais, requer uma precisão que vai além da análise dura, e infelizmente, algumas vezes, trapaceada dos números. O verdadeiro valor estará na união destas duas forças.
Outro desafio é o vitimismo. Esse processo, no qual indivíduos ou grupos se identificam ou são identificados como vítimas de injustiças, danos ou sofrimentos, tornou-se um fenômeno contemporâneo, impulsionado pela facilidade e rapidez com que as narrativas pessoais são disseminadas para um público amplo. Por um lado, temos um linchamento cruel e uma cultura do cancelamento. Pelo outro, pessoas evitando a responsabilidade de suas ações e atribuindo fracassos a fatores externos. A vitimização passou a ser uma estratégia para ganhar poder, recursos ou vantagens.
Enfrentamos o desafio de restaurar a normalidade em ambientes cada vez mais polarizados e céticos. Isso exige uma abordagem que vá além das simples análises de dados ou transmissão de informações. É fundamental ter transparência nas motivações por trás do conteúdo produzido e distribuído, seja ele quantitativo ou qualitativo. Entender claramente as intenções e as interpretações, nos permite resgatar a idoneidade perdida e facilita uma recepção mais aberta das informações.
As competições inflamadas por comportamentos assimétricos não são insuperáveis, mas para transpô-las, precisamos de compromissos coletivos com a honestidade e o respeito pela verdade. Devemos olhar a ética na comunicação, imaginando uma bússola moral que nos ajude a navegar por dilemas complexos, equilibrando interesses individuais com os direitos e necessidades dos outros. Em última análise, a qualidade da nossa democracia e a saúde do nosso discurso público dependem disso.
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