Última atualização: 6 de setembro de 2017
Tempo de leitura: 3 min
Um efeito pouco percebido provocado pela evolução tecnológica é a mudança do comportamento humano em relação a curiosidade… Será que ela está acabando?
O que aconteceria com o mundo se acabasse a curiosidade? Mas, o que é a curiosidade? Por definição, a curiosidade é a capacidade natural e inata do desejo de inquirir, evidente pela observação, e no aspecto dos seres vivos que engendra a exploração, a investigação e o aprendizado. A curiosidade faz parte do instinto humano, pois faz com que um ser explore o universo ao seu redor compilando novas informações às que já possui. Em particular, muitos / pesquisadores defendem a tese de que a curiosidade é um tipo especial da categoria mais ampla, que se caracteriza pela capacidade de buscar de informações. O filósofo e psicólogo William James, em 1899, nomeou a curiosidade como “o impulso para uma melhor cognição”, o que significa que é o desejo de entender o que você sabe que não conhece.
Mas como as diferentes gerações se comportam em relação a busca de novas informações? O avanço tecnológico dos últimos anos mudou nosso comportamento pois, apesar de possuirmos as mais diversas ferramentas disponíveis à mão, não as utilizamos para aprimorar o conhecimento. Em recente pesquisa divulgada pela Universidade da Califórnia, concluiu-se que 85% do que se consome na internet é divertimento e entretenimento e apenas 15% desse consumo é dedicado para a obtenção de informações para a atualização e aprofundamento do conhecimento.
Vale lembrar que, até pouco tempo atrás, o acesso à informação era privilégio de uma pequena parcela da população. Aparentemente existe nos tempos de hoje uma divisão, ou polarização de classes na sociedade entre os curiosos e os desinteressados. A indigência cognitiva permite, de um lado, que qualquer pessoa saiba o que quiser, mas por outro, cria a ilusão que esse individuo já sabe o que precisa. Vivenciamos a mistura das fontes aparentemente confiáveis com o prazer de confirmar o que acreditamos reforçando a superficialidade.
Temos acesso há milhões de artigos especializados como, livros, blogs, comentários, notícias de alta qualidade e enciclopédias. Tudo disponível sem custos e em todos os idiomas. Podemos utilizar tradutores automáticos. Os vídeos vêm com legendas. Os programas de áudio disponíveis para downloads. Ferramentas de pesquisa como o Google, na ponta dos dedos.
Mas não podemos nos iludir. A obtenção de conhecimento sobre assuntos complexos demanda muito tempo e dedicação. Não basta acessar a informação. Ela precisa ser processada, analisada e comparada para se extrair conclusões. Precisamos de informação sobre a informação.
Outro ponto que mudou nos dias atuais é a afirmação de que quem detém a informação detém o poder. Atualmente é quase impossível ocultar informação. Desta forma, a relação com o poder mudou. Nunca foi tão fácil manipular a informação. A comodidade em oferecer um pacote pronto, ricamente embalado, inibe o processo de aprofundamento e nos faz permanecer com informações rasas, estimulando apenas o que se conhece por curiosidade empática, diminuindo a curiosidade diversa. Pior ainda a questão da curiosidade epistêmica, que no fundo é a que traz juízo de valor e possibilita entendimento da razão das coisas, dos acontecimentos e suas consequências.
A sensação que tenho é que esperamos ser atualizados o mais rápido possível sobre o que já sabemos e, ao mesmo tempo, ficamos cada vez mais desinteressados em descobrir o novo. Afinal, para raciocinar e pensar o cérebro gasta muita energia. E, é por isso que pensar cansa.
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