Big Data – Gênesis e apocalipse

Última atualização: 6 de agosto de 2018
Tempo de leitura: 4 min

Estive pensando sobre o Big Data. Sempre fui apaixonado por informações. Quanto mais conhecimento conseguia obter sobre determinado assunto, maior era minha segurança. No fim da década de 80, do século passado, comecei a trabalhar em uma empresa multinacional. Era nos bons tempos dos jornais impressos. Todos os dias, os quatro principais jornais do país estavam à disposição. Isso sem contar as inúmeras revistas. A hierarquia da organização estava impressa em todas as tirinhas de papel que eram grampeadas nas primeiras páginas de cada exemplar. Era o controle da visualização e circulação das edições. O presidente era o primeiro a receber. Só depois que ele lia e colocava seu visto é que os jornais eram liberados para os diretores e depois para os gerentes. Infelizmente meu cargo ainda não era digno de constar nessa tirinha.

Como era comum naquela época, os jornais chegavam bem cedo na empresa. Era a maneira corporativa mais eficiente de se atualizar. Percebi que para ter acesso a este conteúdo eu deveria chegar na empresa, todos os dias, antes de todo mundo. Foi o que fiz. Logo conquistei a amizade com a equipe da portaria do prédio e me coloquei à disposição para levar diariamente os jornais para meu andar. Também me voluntariei a grampear as famosas tirinhas. Isso me deu a possibilidade de desembalar os conteúdos lacrados. Me sentia mais importante que o presidente da empresa pois, mesmo sem ele saber, eu era o primeiro a ler todas as matérias. Sem planejar, isso me deu um diferencial significativo. Sabia e falava sobre fatos antes que meus superiores. Realmente foi um diferencial na minha vida profissional.

Atualmente o grande volume de informações disponíveis, com a atual evolução tecnológica, exige uma profunda reflexão. A informação corre atrás das pessoas. Diariamente me pergunto sobre o momento da história que estamos vivendo. O começo ou fim de um novo período? Difícil saber. O fato é que experimentamos transformações profundas e os poderes constituídos são questionados diariamente. A globalização que durante muito tempo foi apresentada de forma positiva, hoje está sendo colocada a prova. Vários aspectos positivos desta integração, como o comércio, as transações financeiras, os movimentos de capital e de investimento, a migração e movimento de pessoas, assim como a disseminação de conhecimento, produziram vários desafios.

Hoje temos o Big Data. Um termo já ultrapassado, mas amplamente utilizado para nomear conjuntos de dados muito grandes ou complexos. Estamos aprendendo a lidar com nossas limitações humanas. Sistemas são desenvolvidos para processar os dados que não conseguimos mais lidar. Os desafios desta área incluem: análise, captura, curadoria de dados, pesquisa, compartilhamento, armazenamento, transferência, visualização e privacidade dos dados. Este termo, Big Data, muitas vezes se refere ao uso de análise preditiva e de alguns outros métodos avançados para extrair valor de dados. Uma maior precisão no tratamento destes dados pode levar a tomada de decisões com mais assertividade. Além disso, melhores decisões podem significar maior eficiência operacional, redução de risco e redução de custos.

O que no início me pareceu o Gênesis, na criação de um mundo de perspectivas gloriosas e ilimitadas, atualmente me faz lembrar do Apocalipse e seus quatro cavaleiros: A peste, a guerra, a fome e a morte. De forma epidêmica surgiram as Fake News. Em todos os meios de comunicação as mentiras contaminam as informações. Falsos alquimistas aparecem com velhos elixires milagrosos valorizando apenas as suas versões. A dúvida é uma constante. Quanto mais o tempo é valorizado, maior o desperdício na investigação da procedência e da veracidade dos fatos. Uma guerra assimétrica entre a privacidade e a transparência. Até que ponto somos donos das nossas informações e dos nossos comportamentos? Podemos acabar com a individualidade a favor da segurança de todos? Uma fome incontrolável de saber o desnecessário. Uma apetência irracional por novos dispositivos. Vivemos conectados e obcecados pela vida alheia. Um apetite cada vez maior por relacionamentos com pessoas que não conhecemos, acreditando em uma identificação que nunca existiu. A morte do emprego. Nós, seres limitados que somos, não conseguimos lidar com os enormes volumes de dados. A inteligência artificial aparece como ferramenta de extinção das atividades humanas em todas as áreas.

Da mesma forma que gênese também significa formação, apocalipse pode ser entendido como revelação. Não sei o que será do meu futuro, mas não posso negar o que sou. Um apaixonado por informações, pela leitura e com sede de conhecimento. Assim como no passado, procuro incessantemente uma forma de diferenciação para aproveitar esse momento e superar essa anomia. Acredito que o verdadeiro valor deste mundo de excesso e abundância ainda será revelado. Espero sobreviver até lá!

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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