A manipulação das informações

Última atualização: 6 de maio de 2020
Tempo de leitura: 5 min

Ao misturar interesses econômicos e sociais, com valores éticos e morais, todos sabemos que não sairão boas coisas. Ainda mais se no pano de fundo temos uma disputa política irracional, misturada com uma pandemia em aceleração. Para contribuir, temos uma profusão de mensagens de origens duvidosas, sejam em canais oficiais ou informais, justamente em um momento de difusão do negacionismo da ciência, e contextos onde a manipulação de informações e dados servem para amparar uma narrativa.

O fato é que, quando existe falta de evidências, criam-se teorias conflitantes para agradar todos os pensamentos, por meio de contrafações estatísticas semelhantes as adulterações genéticas. Neste cenário, transbordam debates ruidosos, onde há muito calor e pouca luz. Um pandemônio ainda não roteirizado pela indústria da ficção.

É nesse ambiente em que estamos. Isolados socialmente e deprimidos emocionalmente, tentando acreditar na inversão da lógica da fábula “A Cigarra e a Formiga” atribuída a Esopo e recontada por Jean de La Fontaine. Onde, para o nosso bem, devemos ficar em casa sem fazer nada. Mas as despesas e contas normais não param de chegar. Felizes aqueles que conseguem, de alguma forma, trabalhar em home office.

Como opção para a distração, um bombardeio de atrações repetidas e propagandas de conteúdo piegas de marcas tentando se associar a pregação de otimismo. Como novidade, a inauguração das “lives”, que tiveram artistas bêbados ostentando suas casas nababescas. Digo “tiveram” porque foi proibido tomar bebidas alcoólicas ao vivo, pelo menos explicitamente. Agora, tais famosos se hidratam com garrafas térmicas, deixando na imaginação de cada um o conteúdo ingerido – para a tristeza dos patrocinadores.

Por outro lado, as atrações jornalísticas não param. Apresentam números de infectados e mortos, como se fossem resultados de atividades esportivas e gráficos de medalhas. A verdade é que muitas informações valiosas ainda não estão disponíveis. Quando estão, são desatualizadas. Quando atualizadas, duvidosas.

E mesmo quando não são duvidosas, são interpretadas conforme a conveniência, utilizando-se da ambiguidade natural das interpretações de percentuais e das fragilidades das projeções. Desta forma, várias narrativas são construídas para defesa de teses prontas, cheias de preconceitos. Poucos são aqueles que se preocupam com esclarecimentos e elucidações. Muita informação, mas pouca reflexão. OK! Uma hora tudo vai passar. Mas em que situação estaremos quando isso chegar? Não faltam profetas tentando adivinhar.

E pensar que meses atrás estávamos preocupados com a evolução tecnológica e com a perda de empregos pelo avanço da inteligência artificial. Os vírus que tiravam nosso sono eram os cibernéticos.

Hoje, temos inúmeros estudos demonstrando como a IA está ajudando no desenvolvimento da vacina, na identificação possíveis tratamentos, e no combate à Covid-19.

A tecnologia contribui para o monitoramento de áreas de isolamento, e o mapeamento de epicentros de contaminação, permite às autoridades otimizar recursos de combate e prevenção. A IA ajuda na análise de imagens de exames apontando alterações imperceptíveis aos olhos humanos. Como tudo na vida, temos os dois lados. Nesta nova circunstância, o desenvolvimento de novos algoritmos e a manipulação das informações, promete salvar vidas.

A integração da inteligência artificial aos conceitos da transformação analítica proporciona o que temos de melhor. Onde existem muitos parâmetros em jogo, que precisam ser considerados, a inteligência artificial é fundamental. Dentre os milhões de cenários que podem ser avaliados, selecionamos os melhores para, por exemplo, indicar o momento e as doses corretas de medicamentos para cada paciente individualizado.

Mas é por meio da transformação analítica, que nós, humanos, podemos fazer as perguntas certas a serem aplicadas aos modelos matemáticos, a fim de obter respostas mais assertivas. A criatividade humana atrelada aos recursos tecnológicos entrega um casamento perfeito, pois se olharmos à nossa volta veremos diferentes fenômenos que não podem ser descritos ou previstos por simples leis convencionais. Nesse cenário caótico, temos que superar os nossos instintos selvagens e predadores, canalizando a lógica e a razão para superaremos com menor dor esse momento.

O uso de falácias lógicas e outros artifícios retóricos, envolvem a omissão de dados e a exclusão de opiniões divergentes, com a finalidade levar determinados argumentos ao descrédito. A manipulação e repetição de informações equivocadas justifica uma narrativa onde confundir é mais útil do que corrigir ou esclarecer.

Mediante um excesso de oferta de informações devia-se a atenção. A Universidade de Oxford, na Inglaterra, publicou em 2018 um documento intitulado como: “Desafiando a Verdade e a Confiança: Um Inventário Global da Manipulação Organizada nas Mídias Sociais”.

No estudo, pesquisadores acreditavam que, na era digital, a manipulação da opinião pública por meio das plataformas digitais era uma ameaça à democracia. Hoje, o mesmo estudo poderia concluir que essa manipulação é também uma ameaça à vida humana.

As cyber tropas — termo usado pelos pesquisadores para nomear os robôs disseminadores de informações — empregam diversas estratégias de comunicação para conduzir suas operações. A polarização partidária já conhecida e estudada, transformou-se na disputa entre médicos e economistas.

Nessa guerra assimétrica, os médicos ignoram totalmente a economia, mas a economia não ignora ninguém. Ocultação, fragmentação, inversão, manipulação e indução são padrões utilizados em qualquer que seja o ambiente de divulgação de informações. Neste conflito a primeira vítima, como sempre, é a verdade.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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