Entre Laços e Labirintos

Última atualização: 6 de agosto de 2025
Tempo de leitura: 6 min

Estamos cercados por dados, telas e estímulos que prometem conexão, mas entregam confusão. Quando se lê, separadamente, os textos “A Revolução Inacabada”, “Água Salgada Não Mata a Sede”, “Censura por Saturação”, “Memórias Falsas em um Mundo Real”, “IHC – Interação Humano-Computador” e “Informação em Modo Infantil”, que escrevi esta semana, a sensação pode ser a de um mosaico fragmentado de críticas contemporâneas. Mas quando se sobrepõem as camadas de cada um deles, uma narrativa emergente — Entre Laços e Labirintos — revela que, por trás da diversidade de temas, sejam eles a inteligência artificial (IA), memória, interfaces, educação, política e mídia, há um mesmo fio condutor: o colapso silencioso da nossa capacidade crítica diante de sistemas projetados para nos parecer inevitáveis.

“A Revolução Inacabada” (https://www.linkedin.com/pulse/revolu%C3%A7%C3%A3o-inacabada-marcelo-molnar-nearf/?trackingId=me9v12x4hNqmsZAWpjRT0A%3D%3D) mostra como a internet, antes celebrada como terreno de liberdade, tornou-se o palco da centralização de poder. O que era descentralizado se concentrou. O que era livre passou a ser vigiado. A IA, em vez de democratizar o saber, reforça sutilmente a hegemonia de poucos. Essa constatação ecoa em “IHC – Interação Humano-Computador” (https://www.linkedin.com/pulse/ihc-intera%C3%A7%C3%A3o-humano-computador-marcelo-molnar-bv8kf/?trackingId=8j35GPB%2BsRkuosGWXjXlBg%3D%3D), onde se revela que o verdadeiro poder não está nas máquinas em si, mas nas interfaces que nos conduzem sem resistência. Cada clique, cada sugestão, cada ausência de opção molda um comportamento. É design com intenção. A liberdade se torna uma simulação. E o usuário, convencido de sua autonomia, não percebe que já está dentro de um roteiro cuidadosamente programado.

Esse roteiro, contudo, não se sustenta apenas na manipulação da ação, mas também da atenção. “Censura por Saturação” (https://www.linkedin.com/pulse/censura-por-satura%C3%A7%C3%A3o-marcelo-molnar-xnd7f/?trackingId=lCNEwoB4Fq9itNS5eit70w%3D%3D) desnuda o novo regime da distração: a overdose de irrelevância. Não é mais necessário proibir o que incomoda, basta soterrá-lo sob camadas de memes, escândalos fabricados e debates estéreis. O ruído se tornou a nova mordaça. A censura foi terceirizada para o algoritmo. E nesse teatro de estímulos, a política se dissolve em coreografias e os governos (democráticos ou não) passam a atuar sob o script dos interesses informacionais. A ironia é cruel: o excesso de vozes esconde o silêncio das ideias. A pluralidade aparente mascara a homogeneização do afeto e da opinião.

Esse cenário se aprofunda em “Informação em Modo Infantil” (https://www.linkedin.com/pulse/informa%C3%A7%C3%A3o-em-modo-infantil-marcelo-molnar-reipf/?trackingId=Nfvi15wmfX4JGu63bY9o0w%3D%3D), ao apontar que as crianças e, cada vez mais, os adultos, perderam a capacidade de interpretar criticamente aquilo que consomem. Não há filtro, não há análise, só reação. O conteúdo informativo virou entretenimento, e o algoritmo, maestro de uma plateia que confunde fofura com fato e meme com manchete. A infantilização não é um desvio: é o sistema. Crianças repetem frases que ouviram. Adultos compartilham manchetes que não leram. Todos são moldados por um ambiente que transforma a ignorância em norma e a superficialidade em engajamento. A educação midiática, que poderia ser o antídoto, é tratada como luxo ou acessório.

Essa manipulação da atenção e da ação ganha uma camada ainda mais sombria quando percebemos que até o passado já não nos pertence. Em “Memórias Falsas em um Mundo Real” (https://www.linkedin.com/pulse/mem%C3%B3rias-falsas-em-um-mundo-real-marcelo-molnar-hgayf/?trackingId=w6Yb74I5CGmWz31vUj4A3Q%3D%3D), o alerta é explícito: a inteligência artificial, ao manipular imagens e vídeos com verossimilhança assustadora, é capaz de implantar falsas memórias. E se não podemos confiar nas nossas lembranças, o que resta como âncora para a realidade? A IA, nesse contexto, não só edita o presente, como reescreve o passado. Um vídeo falso que parece real não apenas engana: ele recria. E memórias fabricadas moldam comportamentos reais. A história se torna ferramenta. E o futuro, refém de versões convenientes do que nunca aconteceu.

Nesse mundo onde tudo se parece com tudo, mas nada se sustenta, a metáfora de “Água Salgada Não Mata a Sede” (https://www.linkedin.com/pulse/%C3%A1gua-salgada-n%C3%A3o-mata-sede-marcelo-molnar-dmogf/?trackingId=h1d0WkM8lxHhg5V4JlTvdg%3D%3D) ganha peso simbólico. A informação, quando excessiva e mal curada, não esclarece. Ela confunde. Executivos, jornalistas, cidadãos comuns: todos estão imersos em um mar de dados, mas sem bússola. A diferença entre afogar-se e navegar, aponta o texto, está em saber filtrar. Mas não qualquer filtro. É preciso unir tecnologia com pensamento crítico, algoritmo com análise humana, IA com contexto. Só assim é possível transformar o excesso em direção e o ruído em clareza. Entre Laços e Labirintos, é nessa interseção que surgem os poucos faróis que ainda iluminam, como os analistas que sabem ver o que importa antes que desapareça no nevoeiro do irrelevante.

O elo invisível entre esses seis textos não está apenas no diagnóstico do problema, embora todos apontem para um sistema que sequestra nossa atenção, edita nossa memória e enfraquece nossa capacidade crítica. O elo está na constatação de que o perigo maior não é a dominação explícita, mas a adesão inconsciente. A tecnologia deixou de ser uma ferramenta neutra. Tornou-se uma arquitetura de influência. Ela decide o que você vê, como você age, o que você acredita ter vivido e, agora, até o que você esquece.

Mas há um ponto ainda mais inquietante: não estamos resistindo. Estamos, em grande medida, colaborando. Porque a distração é confortável. A interface é amigável. A memória manipulada é reconfortante. A informação mastigada é mais fácil de digerir. E, assim, a infantilização vira estratégia. A saturação vira método. O design vira direção. E a IA, que poderia ser instrumento de emancipação, vira engrenagem do controle.

Entender essas conexões é mais do que um exercício de interpretação. É um gesto político. É reconhecer que, por trás de cada atualização tecnológica, há escolhas. E por trás de cada escolha, há interesses. A revolução prometida pela internet está inacabada. E, se não percebermos que estamos sendo conduzidos com a ilusão de liberdade, talvez seja tarde demais para virar o leme. Porque o maior truque do sistema não é nos enganar. É nos convencer de que não há sistema algum um dos maiores labirintos disfarçados de laço, como revela Entre Laços e Labirintos.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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