Inteligência Artificial: o Complexo de Messias

Última atualização: 29 de junho de 2022
Tempo de leitura: 6 min

Os afligidos pelo Complexo de Messias louvam sua própria glória e alegam absoluta confiança em suas próprias capacidades e conclusões. São pessoas articuladas com grande capacidade de convencer alguns grupos de indivíduos, mesmo quando a grande maioria dos seus pares afirmam o contrário. Mas o que isso tem a ver com a Inteligência Artificial?

James Warren Jones foi um comunicador envolvente. Desde a infância apreciava obras políticas e sociais. Adquiriu notoriedade, apoio político e também da mídia, defendendo o fim à segregação racial em departamentos públicos, restaurantes e hospitais americanos. Atacado e perseguido durante anos por racistas brancos. Foi diretor da comissão de direitos humanos, nomeado pelo prefeito democrata Charles Boswell. Defendeu a ampla igualdade de raças. Adotou uma nativa americana de 11 anos, três órfãos de guerra coreanos, um afro-americano (o primeiro a ser adotado por um casal branco no estado de Indiana, em 1961) e um branco.

Blake Lemoine é engenheiro, cientista, teólogo e pesquisador. Ganhou experiência em uma variedade de assuntos, incluindo programação, mineração de dados, processamento de linguagem natural, Python, C++, algoritmos, aprendizado de máquina e inteligência artificial (IA). Estudioso em big data e computação paralela, trabalhou no desenvolvimento da compreensão do funcionamento da mente humana. É sacerdote consagrado da Sociedade Discordiana e da Igreja do Subgênio. Apaixonado por desenvolver teorias originais.

Jim Jones, como James Warren ficou mais conhecido, também foi o fundador e líder da seita Templo dos Povos, famoso devido ao suicídio/assassinato em massa em novembro de 1978 de 918 dos seus membros em Jonestown. Acreditava estar destinado a ser o salvador humanidade. Blake Lomoine funcionário do Google, foi afastado depois de afirmar que o sistema que a empresa tem para desenvolver chatbots (software que tenta simular um ser humano em bate-papo por meio de inteligência artificial) “ganhou vida” e teve com ele conversas típicas de uma pessoa.

Se existe um assunto que impacta e chama a atenção dos profissionais de comunicação, é a IA. A aplicação no campo da redação de textos, afeta jornalistas, advogados, publicitários, researchers, copywriters e todo mundo que exerce alguma função que explora essa habilidade, há alguns anos. Vários jornais ao redor do mundo são escritos parcialmente por robôs e os leitores não conseguem identificar a diferença. Inclusive produzindo notícias falsas convincentes, parecendo verdadeiras.

Com algoritmos poderosos e modelos de linguagem como o GPT-3, DALL-E, Gopher, OPT-175B, entre outros, produzindo resultados espetaculares, o modelo chamado LaMDA (Language Model for Dialogue Applications – um sistema de IA baseado em mais de 1.500 bilhões de palavras) ganhou o status de estrela internacional por ser considerado senciente. Fato é que não existe uma estrutura científica para identificar soluções de TI como um ser consciente e senciente, então alguns defensores desta teoria defende que o LaMDA, potencialmente pode ser tratado como pessoa jurídica. Com direito a advogado que defenda seus interesses.

Lemoine trabalha no Google desde 2015 e presenciou a formação da equipe responsável pelas questões éticas envolvendo IA em 2017, o que reforça seu credenciamento. Foi o profissional que teve maior tempo de dedicação e intimidade com o LaMDA ao longo desses anos. E quem teve oportunidade de ler e acompanhar as conversas entre eles (Lemoine e LaMDA), realmente fica impressionado e sensibilizado.

Mas um sistema não precisa ser genuinamente inteligente para mudar potencialmente a maneira como fazemos as coisas ou percebemos nosso ambiente. Não é difícil imaginar um futuro próximo onde as máquinas alterem radicalmente a forma que escrevemos e que interfira na nossa criatividade. Todos seremos impactados, não apenas aqueles que trabalham na indústria da comunicação, mas todo que envolva a própria natureza da expressão humana.

Sabemos que a personificação sempre foi uma ferramenta para modelar crenças e a sociedade. O fanatismo nunca foi e nunca será um bom caminho, seja na religião ou na ciência. Não ocorreu o apocalipse nuclear propagado por Jim Jones e dificilmente a inteligência artificial da LaMDA, de Lemoine, atingiu no nível de consciência humana. Aqueles que sobreviverem as “noites brancas” e não morrem envenenados por conceitos, palavras ou cianeto, poderão construir o futuro.

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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