JoT – Jornalismo das coisas II: o futuro será positivo

Última atualização: 16 de dezembro de 2021
Tempo de leitura: 4 min

Terminei o último artigo sobre JoT (Jornalismo das Coisas) afirmando que precisamos de especialistas em comunicação coordenando as novas áreas do jornalismo, afinal, a tecnologia não veio para substituir conhecimentos, ela veio para somar. E o primeiro passo para isso será articularmos visões positivas para o futuro. Dia após dia, ouvimos histórias ameaçadoras de sistemas e máquinas assumindo tarefas que, até muito recentemente, considerávamos exclusivas e permanentes da humanidade, como fazer diagnósticos médicos, redigir documentos legais, projetar edifícios e até mesmo compor músicas. Mensagens de medo, onde a maioria das opiniões são críticas e preocupantes.

Mas precisamos ter perspectivas ousadas e ambiciosas sobre a evolução tecnológica, o JoT e a Inteligência Artificial (IA). Sabemos como será difícil e desafiador equilibrar diversos interesses no futuro. Não existem apenas dificuldades práticas, mas também desafios ideológicos e profundas divergências sobre a natureza dos desafios que enfrentamos e os resultados que queremos alcançar. Muitas questões requerem pesquisas incrementadas e tempo de reflexão. Dito isso, à medida que novos recursos avançam implacavelmente, a tarefa de pensar em um amanhã mais positivo não pode esperar.

Quantas vezes já não ouvimos ou lemos sobre o fim do jornalismo profissional?  Que a imprensa é manipuladora e parcial? Que as redes sociais e os influenciadores digitais substituem as redações organizadas e estruturadas? Mas não podemos esquecer que o jornalismo foi um importante agente transformador da sociedade ao longo das últimas décadas. Que tem o poder de mudar os rumos da história, em função do que é publicado e do que não é divulgado. Muitos acontecimentos só puderam chegar a todos os cantos do mundo, graças ao trabalho árduo e comprometido destes profissionais da comunicação e do desejo insaciável de revelar o que os olhos do mundo não conseguiriam ver sozinhos.

Não podemos incentivar o amadorismo irresponsável e inconsequente, que muitas vezes produz fake news. Precisamos investir na capacidade e habilidade para utilizar todos os recursos disponíveis, como o JoT, e não os negar. É necessário desvalorizar os replicadores de informações pagas, reinventar o processo informacional e reconstruir um novo destino. Volume não é qualidade. Existem espaços para influenciadores digitais, comentaristas de podcasts, blogueiros, tuiteiros e outras formas que ainda serão inventadas e definidas, mas o mais importante ter ética e responsabilidade social.

E embora existam momentos importantes de acordo e consenso entre as visões, frequentemente há confrontos reveladores também. Os benefícios econômicos do progresso tecnológico são amplamente compartilhados em todo o mundo. A economia global é 10 vezes maior, porque a IA aumentou a produtividade. Mas a sociedade como um todo precisará superar as dinâmicas atuais que levam à concentração de poder e riqueza. Novos empregos são criados constantemente, e aqueles que se adaptam às mudanças continuam encontrando novas oportunidades.  Os desafios a essa visão incluem o fato de acreditar na necessidade educação contínua.

Existem diversos líderes empresariais, cientistas da computação e formuladores de políticas que optam por desenvolver tecnologias que aumentam, em vez de diminuir, a demanda por trabalhadores. Afinal a sociedade questiona o discurso de automação excessiva e focada apenas na substituição do trabalho humano. Encontraremos um “ponto ideal” em que as pessoas e as máquinas trabalharão juntos. A IA deve ser centrada no ser humano, e não no processo perverso de monitoramento do comportamento objetivando incentivar o consumo de bens materiais desnecessários.

Novas atividades deverão ser mais gratificantes do que as anteriores. As máquinas lidarão com tarefas inseguras e enfadonhas, enquanto nós humanos nos dedicaremos aos trabalhos mais criativos, gratificantes e flexíveis. Esta é uma das propostas do JoT. Isso será alcançado através do entendimento das questões climáticas e da conscientização dos limites da matriz energética do planeta. Em um mundo com melhor lógica de valor, o bem-estar poderá vir de atividades não remuneradas. Os desafios serão superar o acesso desigual a atividades significativas e a dificuldade de manter a solidariedade social em um mundo onde todas as pessoas tenham ocupações físicas e mentais produtivas.

É nossa característica vital sempre pensar no que está por vir. Tudo começa com uma boa reflexão sobre o que precisamos fazer para nos prepararmos para o amanhã. De previsões do tempo ao planejamento financeiro, tentamos antecipar o que pode vir pela frente. Amamos pensar sobre o póstero, mas muitas vezes lutamos para transformar esses pensamentos em nosso benefício prático. Somos inconsistentes. Superestimamos e subestimamos. As vezes falhamos em antecipar o inesperado. É importante distinguir entre nossa capacidade de projetar e nossa capacidade de realizar. Olhar para o passado nos ajuda a entender melhor o caminho que percorremos para chegar ao presente e, com isso, podemos identificar as linhas de tendência que apontam para o que vem a seguir. Desta forma, o futuro pode e deve ser positivo.

Leia mais: JoT: o jornalismo das coisas

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Marcelo Molnar

Sobre o autor

Marcelo Molnar é sócio-diretor da Boxnet. Trabalhou mais de 18 anos no mercado da TI, atuando nas áreas comercial e marketing. Diretor de conteúdo em diversos projetos de transferência de conhecimento na área da publicidade. Consultor Estratégico de Marketing e Comunicação. Coautor do livro "O Segredo de Ebbinghaus". Criador do conceito ICHM (Índice de Conexão Humana das Marcas) para mensuração do valor das marcas a partir de relações emocionais. Sócio Fundador da Todo Ouvidos, empresa especializada em monitoramento e análises nas redes sociais.

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