Última atualização: 16 de setembro de 2021
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A Inteligência Artificial (IA) está modificando profundamente o mercado de trabalho. Os impactos sociais serão cada vez mais complexos, entre os quais estão a diversidade e inclusão. Onde muitos veem problemas, acredito ser uma excelente oportunidade. A IA ao ser capaz de simular comportamentos, poderá reduzir tendências e preconceitos, que inconscientemente estão no seio do pensamento humano, prejudicando as empresas de recrutar considerando a diversidade e a inclusão.
Uma das áreas que ganhou espaço foi a “Neurodiversidade” – termo cunhado pela socióloga australiana Judy Singer em 1998. O conceito postula que condições como TEA (Transtorno do Espectro Autista), TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), dislexia e dispraxia (distúrbio motor com base neurológica), Síndrome de Savant, entre outras, não são anormalidades, mas sim, diferenças neurológicas a serem reconhecidas, respeitadas e aproveitadas. Em uma visão expandida, a “Neurodiversidade” pode ser compreendida como um diferencial e uma vantagem competitiva.
Diversas corporações, como Vodafone, Hewlett Packard, Microsoft, Ford, Dell, Credit Suisse Group AG e Ernst & Young, já contratam talentos “neurodiversos”, especificamente autistas, para trabalhos envolvendo a própria IA. Já foi comprovado que os cérebros autistas são altamente criativos, com excelente capacidade de concentração, lógica, imaginação e pensamento visual. Eles também tendem a ser sistemáticos, meticulosos e detalhistas, que compartilham insights e perspectivas únicas na solução de diversos problemas.
Essas iniciativas não se restringem às empresas. Diversas Secretarias dos Direitos da Pessoa com Deficiência apoiam a inclusão e socialização de funcionários “neurodivergentes”. O próprio Departamento de Defesa da Austrália empregou indivíduos autistas de alto desempenho em projetos envolvendo segurança cibernética. Outro exemplo são as pessoas disléxicas, que demonstram grande capacidade de pensar fora da caixa. Estudos apontam que mais de 80% destes estão acima da média no raciocínio lógico, no entendimento de padrões, na avaliação de possibilidades e na tomada de decisões. Suas competências são inestimáveis quando se trata de visualizar aspectos de uma perspectiva mais ampla e avaliar situações de óticas variadas.
Esses profissionais, muitas vezes descriminados, podem ser integrados aos novos universos disponibilizados pela revolução digital, como realidade virtual, realidade aumentada, ciberespaço, 5G, blogosfera, ambientes de nuvens, entre outros tantos, que convencionamos chamar de Metaverso, um espaço virtual compartilhado coletivo, proporcionando uma nova dinâmica econômica, comercial, política, afetiva e cultural que gerará infinitas oportunidades. O que antes era visto como pontos negativos, tornam-se qualidades indispensáveis.
O Metaverso amplifica opções e possibilita o trabalho em home office (ou em um ambiente de trabalho desenhado para acomodar diferenças), aos “neurodiversos”, que, em alguns casos, encontram dificuldade de desempenhar atividades nos escritórios tradicionais onde há grande concentração de pessoas, com ruídos diversos e luzes brilhantes. Da mesma forma, a IA e a “Neurodiversidade” demandam criatividade dos recrutadores e mudanças nos padrões de entrevistas e testes. As características podem ser diversas como um ambiente mais silencioso e tranquilo, além de ajudar a corrigir desvios tanto por parte dos futuros gestores e colegas.
Desde o ano passado, o ESG vem se tornando, dia após dia, mais presente em todos os mercados, portanto, não há dúvidas de que veio para ficar. Essa importante mudança é impulsionada por uma crescente conscientização sobre a urgência de tratarmos de demandas sobre o meio ambiente, o social e a governança que os investidores de todo o mundo passaram a considerar obrigatórios. A formação de equipes diversas, a preocupação com a construção de um ambiente inclusivo e seguro para diferentes grupos, a diversidade em cargos de liderança, a equidade salarial e outras ações indicam se as empresas seguem ou não as diretrizes corretas.
Tendo como base a antropologia do ciborgue, onde o indivíduo tem sua existência constituída pela tecnologia digital, geralmente pensávamos no hibridismo corporal entre o ser humano e a máquina. A incorporação das tecnologias do metaverso cria uma realidade social de integração mental e cerebral. Da mesma forma que substituímos partes físicas do nosso corpo, com próteses que podem nos dar poderes especiais, típicos de ficção científica, podemos agora pensar em uma integração neural, adaptando as então conhecidas anomalias para potencializar nossas capacidades. A diversidade e inclusão devem ser percebidas como oportunidades de expansão e não de limitação ou restrição. Deixamos de ser uma sociedade que promove verbalmente a igualdade e condena (ou privilegia) os diferentes.
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