Última atualização: 10 de dezembro de 2020
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O ano que aparentemente não começou, dificilmente acabará agora em dezembro. Tenho dificuldade para imaginar como os estudiosos analisarão o ano de 2020 no futuro. Há algum tempo venho reforçando o pensamento de que a única coisa que podemos mudar na nossa vida é o passado. O presente apenas administramos. E o futuro é construído pelas nossas escolhas. Mesmo que não saibamos os reais resultados das nossas opções. Desta forma, se considerarmos estes últimos meses como “presente”, acredito que investimos boa parte da nossa energia apenas em sobreviver. Literalmente. Os impactos e as consequências deste período ainda insepulto, variam muito de pessoa para pessoa, de empresa para empresa, de país para país. O fato é que não será esquecido, mas sim distorcido pela história. Mesmo nós, contemporâneos remanescentes, iremos em breve relatar os fatos hoje vividos de forma distinta da realidade.
Mas como sempre ocorre nestes dias finais de ano, vamos olhar para frente e procurar identificar nossas possibilidades de futuro. Mesmo em um momento de aparente fragilidade humana, a tecnologia nos promete recursos expansionistas. Teremos a nossa disposição, em curto espaço de tempo, formas para melhorar nossas experiências cognitivas e físicas em várias categorias: sensorial (audição, visão e percepção), biológica (exoesqueletos e próteses), cérebro (implantes para tratar convulsões) e genética (terapia celular). Experiências imersivas combinarão realidade aumentada (AR), virtual (VR), interações homem-máquina e diversos dispositivos de detecção. A Internet da Coisas (IoT) continuará evoluindo. Drones, robôs e eletrodomésticos autônomos deixarão de serem itens isolados e realizarão tarefas integradas. O acesso ao conhecimento técnico será mais fácil e democrático, com treinamentos adaptáveis as características de cada indivíduo. Desaprender será tão, ou mais importante do que aprender. Os sistemas de cyber segurança serão desenvolvidos para identificar as ameaças antes dos ataques. E esses são apenas alguns exemplos.
O fato é que os dados e a tecnologia estão remodelando nosso mundo. Para todos esses avanços, incluindo o uso da Inteligência Artificial, devemos estar preparados para assumir níveis mais elevados de risco. Porém, isso não deve ser encarado como uma licença para o uso antiético da IA. Em sintonia com a ética vem a confiança. Um recente relatório do Capgemini Research Institute descobriu que aumentou a parcela de pessoas que desconfiam sobre como as organizações utilizam seus dados pessoais. Não existe transparência. Em 2019 eram 24% hoje 38%. Estamos cada vez mais habituados a nos relacionar com as máquinas e os dispositivos, mas bastante inseguros da forma como essas experiências comportamentais serão utilizadas.
Em virtude da pandemia e dos novos costumes de teletrabalho, um estudo financiado pela Oracle com a Workplace Intelligence, envolvendo mais de 12 mil trabalhadores de vários níveis hierárquicos em 11 países, concluiu a fragilidade psicológica que vivemos atualmente. Revelou-se que problemas emocionais dos entrevistados afetam negativamente a performance no trabalho, mas que eles têm medo de falar sobre o que sentem para não serem condenados por colegas, amigos e superiores. Muitos confessam terem receio de demissão. Conclusões óbvias. O interessante foi cruzar os resultados obtidos em entrevistas envolvendo humanos por um lado, e assistentes digitais e de tecnologia de inteligência Artificial pelo outro. Quando os colaboradores entrevistados estavam conversando com chatbots e robôs, as informações obtidas foram mais detalhadas e as respostas mais profundas. A conclusão é que diferente dos humanos, os robôs (ainda) não podem nos julgar, o que permite uma maior intimidade, contrariando a lógica e o senso comum.
O escritor britânico David Levy, autor do livro “Amor e sexo com robôs”, afirma que o futuro da robótica e da IA, produzirá, máquinas avançadas capazes de se relacionar com os humanos de forma tão profunda a ponto de nos apaixonarmos por elas. Levy cita o afeto recíproco, um dos principais motivos que levam as pessoas a se apaixonarem. E os robôs podem ser programados a agirem dessa forma. Quando nos apaixonamos compartilhamos de ideias e desenvolvemos valores semelhantes. No passado, os animais eram domesticados para nos servirem, mas agora são tratados como um membro da família. E nós, humanos, já mostramos que somos capazes de criar afeição por seres virtuais, como os Tamagotchis. O “uso abusivo” da internet, redes sociais, celulares e jogos, é assunto já estudado por médicos e especialistas, e tudo indica que novos envolvimentos emocionais com os robôs aparecerão. Principalmente em uma época de restrição de interação social. Na comunicação os humanos já perderam o protagonismo. Somos resultado das nossas escolhas e em breve Anthony Levandowski ganhará novos discípulos.
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